As aventuras de um Algarvio no país das papoilas (e das bicicletas, e das meninas nas vitrines, e das drogas, e dos diques, ...)
Segunda-feira, 21 de Janeiro de 2008

Caros compatriotas,

Celebrou-se no passado dia 19 o aniversário da minha chegada à Holanda. Um aninho já lá vai.

Para comemorar, decidi ir ver um filme Português que, por coincidência, estava em exibição numa sala de cinema alternativo aqui em Haia. Pelo que me apercebi, o filme resultou de uma parceria Ibérica. A realizadora é Espanhola mas o filme é uma espécie de documentário sobre o fado nas suas diversas formas e sobre a influência que teve e recebeu de outros estilos musicais. Digo "espécie de documentário" porque não há narração. O filme é uma sequência de actuações musicais, na maioria fados, mas com outros géneros à mistura. O nome do filme: "Fados".

O fado é bastante apreciado pelos Holandeses mas confesso que fiquei surpreendido quando me deparei com a sala de cinema cheia de gente. E mais surpreendido fiquei pelo facto de apenas duas pessoas terem saído durante o filme (que foi uma grande "seca").

Em jeito de prenda pelo dito aniversário, recebi uma chamada do meu banco local a dizer que me tinham cancelado o cartão de débito. Não...não andei a fazer falcatruas! Sou sim uma potencial vítima daqueles engenhosos que andam a colocar aparelhinhos nas caixas multibanco para copiar as bandas magnéticas dos cartões do pessoal. Agora é esperar por um cartão novo. Entretanto, já me informei do valor do saldo e parece estar tudo bem.

Acabei, finalmente, de ler o "Oliver Twist", uma bíblia com 511 páginas. Agora vou matar saudades da língua Portuguesa com uns livritos que trouxe daí aquando da minha visita pelo Natal.

O tempo continua ventoso e chuvoso mas não muito frio. Valha-nos isso! Acho que por aí também não está muito melhor, segundo os meus informadores?!?!?!

O trabalho vai andando...uns dias melhor outros pior. Hoje, por acaso, foi um dos "pior".

Bem...vou ver se como alguma coisa porque aqui já passa da hora do jantar. A minha dieta anda terrível. Se vocês soubessem a quantidade de chocolate que eu tenho ingerido diariamente, caíam para o lado. Vou ter que atinar com estes hábitos alimentares.

Bem hajam meus irmãos, filhos da mesma grandiosa nação, e até ao meu regresso.

Red in Holland

 

 

publicado por Red in Holland às 18:43

Terça-feira, 15 de Janeiro de 2008

Olá a todos.

Como provavelmente já terão suposto, não se tem passado nada por aqui digno de registo.

Os fins de semana têm sido passados com muita calma, não fazendo praticamente nada: lá dou uma voltinha pelo centro da cidade, como uma sandocha, bebo um café, leio um capítulo ou dois de um livro, vou ao cinema...coisitas assim. Vi os filmes "Elizabeth - The Golden Age" e "National Treasure - The Book of Secrets". O primeiro é mais um sobre o reinado de Isabel I de Inglaterra e é muito parecido a outros que foram feitos em que a personagem principal era a dita figura histórica. No entanto, apesar do filme durar 2 horas (sem intervalo) e não apresentar nada de verdadeiramente novo ao enredo já tantas vezes retratado noutros filmes, gostei. O outro é mais um "Indiana Jones" dos tempos modernos: se viram o primeiro e gostaram então vejam o segundo também. Para quem não viu, é um filme de aventura, uma "caça ao tesouro" empolgante que nos mantém "pregados" ao ecrâ do princípio ao fim.

Hoje, para encher um pouco o ecrã, vou falar-vos dos meus companheiros de casa. Um deles é um rapaz Búlgaro que está a estudar cá. Apesar de vivermos na mesma casa passam-se meses sem que eu lhe ponha a vista em cima. E acreditem que não estou a exagerar. Por vezes penso que ele só sai do quarto depois de se certificar que não está ninguém por perto. Se pensarmos que ele também come, também toma banho, também tem necessidade de urinar e defecar, como é que se explica, de outra forma, que num espaço de tempo que já chegou aos dois meses, eu não me cruze com ele em parte alguma da casa.

O outro companheiro é na verdade uma companheira. Alemã a fazer um estágio num gabinete de arquitectura. Esta, pelo contrário, gosta de fazer sentir a sua presença. De tal forma que ao abrir a porta de casa já a ouço no terceiro andar a gritar ao telefone (com alguém que espero seja um dos progenitores pois custa-me imaginar que alguém que não eles sejam obrigados a sofrer tamanho castigo). E isto acontece todos os dias. Para além de marcar a sua presença "vocalmente", também gosta de deixar outras marcas bem nítidas e indiciadoras da sua passagem: luzes acesas, tachos e panelas (os únicos disponíveis para cozinhar) sujos, fogão imundo, frigorífico (que supostamente era para ser partilhado por nós os três) apinhado de coisas da senhora, etc. No entanto é uma "mecinha" simpática.

Et voilá...vou dar de frosques que está na hora de papar.

Um grande bem haja para todos e até à próxima.

Se não tiverem nada para fazer (como eu nos fins de semana) mandem um e-mail ou "postem" um comentário a dar notícias, a contar as últimas fofocas, o que for.

Red in Holland

publicado por Red in Holland às 18:16

Quinta-feira, 03 de Janeiro de 2008

Votos sinceros de um feliz Ano de 2008 para todos, com muita saúde, amor e paz.

Quanto mais velho estou mais me convenço que estes (e outros) "lugares comuns", estes clichés, estas frases feitas que toda a gente usa têm, afinal, muito de verdade.

Neste virar de ano, pela primeira vez, não fiz nenhum balanço da minha situação existencial: das minhas conquistas, das minhas perdas, dos meus desejos para o futuro (excepto no que diz respeito à minha saúde e segurança e à de todos aqueles que amo) ou dos meus ressentimentos em relação ao passado. Não sei se é, mais uma vez, o avançar da idade ou se a minha nova situação de emigrante, ou então ambas as coisas, mas começo a sentir uma serena resignação em relação a tudo aquilo que o destino me vai "atirando" à medida que vou desbravando este caminho que é a minha vida. De que adianta fazer grandes planos quando a  vida se revela uma sucessão de momentos e acontecimentos, muitos deles aleatórios, dificilmente previsíveis e dificilmente controláveis e quando tudo o que de bom nos acontece tem um preço. É deixar andar! O que tiver que ser será e quando for logo se vê.

Pondo um ponto final nestas considerações quasi-filosóficas, vou então passar ao relato das celebrações da passagem de ano.

Como já vos tinha dito, os Holandeses, por esta altura do ano, ficam completamente doidos por fogo-de-artifício e bombinhas. Seria muito difícil encontrar um único lar Holandês que não tivesse qualquer um destes artefactos. Vários dias antes da passagem de ano já era possível ouvir, aqui e ali, rebentamentos esporádicos de bombinhas e foguetes.

No dia 31 foi a loucura total e começaram logo ao final da tarde. Por onde quer que se andasse lá estavam as luzes brilhantes do fogo de artifício e os bangs estrondosos dos ditos cujos e das bombas. De tal maneira que eu, criatura não habituada a estas manifestações exuberantes e ruidosas, tive algum receio de sair à rua. Sim! Se acontecem acidentes com profissionais a manusear este tipo de coisas imaginem o que pode acontecer quando toda a gente, não só graúdos mas principalmente miúdos, atira foguetes em todas as direcções, no meio do casario, e bombas para o meio das ruas e passeios sem sequer olhar.

Vai daí, decidi deixar as hordes se acalmarem e só saí de casa quando me pareceu que toda a gente tinha já esgotado o "arsenal" - isto lá por volta da uma da manhã.

Devo dizer-vos que a "paisagem" com que me deparei quando saí à rua fazia lembrar aquelas reportagens de cenários de guerra provenientes do Afeganistão ou do Iraque. Para começar, as ruas estavam imersas em fumo: havia o fumo libertado pelo rebentamento das bombas e fogo de artifício mas também o fumo de várias pilhas de "destroços" que ardiam nos passeios e estradas. No ar pairava um odor forte: um misto de queimado com seja o que for que é usado nos foguetes e bombas. Para completar o quadro, não se via vivalma em parte alguma.

"Navegando" a minha bicicleta a pedal, já com luzes instaladas, por entre o fumo espesso, tentando evitar os destroços e vidros partidos no chão, rumei em direcção a uma discoteca onde abanei a carola até às 7 da manhã.

Escusado será dizer que não acordei a horas de ir tirar fotografias aos banhistas do Novo Ano.

E por hoje chega de conversa que a noite já vai longa.

Respeitosos cumprimentos e até breve.

Red in Holland

publicado por Red in Holland às 18:35