As aventuras de um Algarvio no país das papoilas (e das bicicletas, e das meninas nas vitrines, e das drogas, e dos diques, ...)
Segunda-feira, 24 de Setembro de 2007

(continuação)
Para além das vantagens já referidas, a Holanda conta também com um valioso recurso natural - o gás natural - que nós não temos (pode ser que descubram petróleo nas prospecções que andam a fazer agora em Portugal) e a elevada carga fiscal aqui também dá uma ajudinha aos orçamentos do estado (que permitem depois desenvolver todas aquelas maravilhosas infraestruturas de que a actividade comercial necessita para se expandir).
Portugal não está tão bem localizado geograficamente (no contexto Europeu) quanto a Holanda mas pode vir a desempenhar um papel semelhante de intermediação quando (e se) a Europa se decidir virar para além fronteiras, nomeadamente para África e Américas (porque o mercado Europeu, por muito grande que seja, eventualmente há-de esgotar o potencial de expansão e crescimento).
Existem também diferenças significativas ao nível da atitude e comportamento dos Holandeses que se reflecte, directa ou indirectamente, no desempenho económico do país. Muito ciosos do seu espaço pessoal e privado evidenciam, no entanto, um forte sentido de "comunidade" e fazem da "igualdade" um pilar fundamental da vivência em sociedade. Isto significa, na prática, que demonstram grande civismo e consideração pelo que é de todos. Não se importam de pagar impostos (e pagam-nos, efectivamente, e bem altos) pois acreditam que é para o bem de todos. Respeitam e exigem respeito. São informais (não há cá senhores doutores para aqui nem senhores engenheiros para ali), simples (não será coisa do outro mundo ver o Director de uma empresa chegar ao trabalho de bicicleta a pedal) e esperam ser ouvidos e envolvidos em tudo o que os possa afectar (inclusive no trabalho). A questão da igualdade reflecte-se numa maior e mais equitativa redistribuição dos rendimentos, o que na prática significa que os trabalhadores recebem uma maior percentagem da riqueza criada pela empresa e que é menor a diferença entre os salários mais baixos e os mais elevados. Os Holandeses são "abertos", organizados, muito empenhados e envolvidos com o seu trabalho e adeptos do planeamento.
Não querendo ferir susceptibilidades (e isto é a minha opinião pessoal) eu diria que em Portugal, para a grande maioria, é mais o: "salve-se quem puder"; "venha a mim" tudo o que for possível; quem não foge aos impostos não é "filho de boa gente"; igualdade e participação dos trabalhadores, redistribuição de riqueza - qué isso ?!?!?!?!?!?!?!?!? Atribuimos grande importância aos títulos e aos sinais de riqueza em detrimento da verdadeira natureza e capacidade das pessoas e ainda se encontra muito o descarado sistema do compadrio ("o padrinho", "o amigo", "a cunha" que conhece alguém que conhece alguém que conhece alguém...).
(continua)
publicado por Red in Holland às 04:48

Quarta-feira, 19 de Setembro de 2007

Dentro de um mês, precisamente, termina o meu estágio e porventura a minha estadia na Holanda.
Pensei que talvez fosse bom fazer o balanço desta minha experiência.
Os principais motivos que me levaram a candidatar a este programa de estágios foram o "enriquecimento" do meu Curriculum e da minha pessoa (em termos de conhecimentos e experiência de vida), o desafio de viver longe te tudo o que me é familiar e querido e também o querer perceber se o nosso país e a nossa gente são tão atrasados e improdutivos como frequentemente nos pintam.
Ainda que o estágio possa ter ficado aquém das minhas expectativas, o meu enriquecimento pessoal e profissional é indiscutível. O desafio de viver num outro país, longe de família e amigos, também considero que foi superado. Houve momentos em que não foi fácil, em que as saudades foram muitas, mas confesso que a culpa também foi um pouco minha. Se eu não tivesse optado por esgotar os fins de semana em viagens exploratórias pela Holanda e tivesse começado a sair e a socializar mais cedo, provavelmente teria conhecido muito mais gente e a solidão não teria sido tão "pesada".
Em relação ao último ponto, ao alegado atraso de Portugal e "incapacidade" dos portugueses, há muito para dizer. Até foi bom eu ter vindo parar à Holanda, um dos países mais desenvolvidos da UE e que aparece frequentemente nos topos das estatísticas Europeias, porque assim tenho um bom referencial para comparações.
Os Holandeses são um povo aberto a tudo o que vem de fora e com um elevado grau de instrução/ formação. A título de exemplo posso referir que não é raro encontrar pessoas da geração da minha bisavó que falam Inglês na perfeição (quando em Portugal, nem entre a geração da minha mãe é comum encontrar quem domine o idioma). Este facto talvez ajude a explicar porque a Holanda foi um dos países escolhidos por muitas multinacionais para instalar as suas sedes. A posição central que ocupa na Europa também terá contribuído para este facto mas também para fazer da Holanda um agente/ intermediário privilegiado nas trocas comerciais intra-comunitárias e não só, facto este potenciado pelo nível elevadíssimo de infraestruturas existentes no país (lembremo-nos de Roterdão, o maior porto marítimo do mundo; em termos de transportes, por exemplo, o país possui 5 aeroportos - num território que é praticamente um terço do Português, uma extensa rede de autoestradas -gratuitas- e de vias ferroviárias modernas e bem equipadas que cobrem todo o território nacional e fazem a ligação, inclusive em alta velocidade, às principais cidades dos países vizinhos. Estes são alguns dos factores que explicam o desenvolvimento económico da Holanda. Se pensarmos em Portugal, as diferenças saltam à vista. O nosso tão estimado Salazar (pelo menos segundo os resultados daquela recente eleição d'"O Português da História", ou lá que raio era aquilo) e os anos de ditadura tiveram uma influência determinante na nossa abertura ao exterior e nível de ensino e deixaram outras marcas, como o conformismo crónico do povo Português, que ainda hoje se fazem sentir e que não ajudam em nada ao nosso desenvolvimento. As nossas infraestruturas, apesar das melhorias dos últimos anos, penso que continuam a ser insuficientes (estou a lembrar-me neste momento do meu Algarve e das regiões do interior do país).
(continua)
publicado por Red in Holland às 04:28

Segunda-feira, 17 de Setembro de 2007

Olá a todos.
Pouco de novo há para contar.
O tempo por cá continua chuvoso. Pouco a pouco, o verde da folhagem vai dando lugar aos castanhos, amarelos e dourados; claro sinal de que o Outono se aproxima a passos largos.
Para grande felicidade de todos nós, o fim-de-semana revelou-se bastante solarengo e agradável.
No sábado acordei bem cedinho. Dei uma volta a pé pela cidade, fui visitar um parque de diversões itinerante que está montado num dos parques (mas que ainda estava fechado à hora que lá fui) e dei um pulinho ao cinema para ver o mais recente filme da saga Bourne: "The Bourne Ultimatum". Na parte da tarde fui até Kijkduin, outra zona balnear de Haia, dar um passeio à beira-mar e ouvir música jazz tocada ao vivo. Quando cheguei a casa já era tarde e sentia-me relativamente cansado por isso não houve borga.
No domingo acordei por volta do meio dia, comi qualquer coisa e fui para o centro da cidade. Juntei-me aos magotes de gente que por lá andava a ver montras e lojas e quando já estava farto, sentei-me numa esplanada a tomar um café. Pela primeira vez desde que cá estou fui ao McDonalds e depois de ter enchido a barriguinha voltei ao cinema, desta vez para ver o "Ratatouille"...eh eh eh. O meu lado infantil a vir ao de cima.
A cidade hoje está um caos. Há ruas cortadas e trânsito condicionado no centro da cidade. Isto em preparação para o grande evento que vai ter lugar amanhã: a deslocação da Rainha ao Parlamento. Pelo que já percebi, é um acontecimento bastante aguardado por todos, com forte adesão popular e grande cobertura mediática. Envolve um cortejo de guarda a cavalo que vai escoltar a família Real desde o Palácio Noordeinde até ao edifício do Parlamento, o Binnenhof. O elemento que confere maior simbolismo ao acontecimento e que é indissociável do mesmo é a carruagem dourada em que a Rainha é transportada. Também já me disseram que o acontecimento se tem vindo a tornar popular pelo desfile de chapéus "exóticos" que se vêm por lá passeando nas cabeças da família Real, membros do Parlamento, do Governo e convidados. Se o tempo permitir, amanhã vou dar uma espreitadela e depois logo vos conto como foi.
Portugal continua na moda por aqui. Primeiro graças ao caso Maddie e agora os agradecimentos devem-se ao nosso querido treinador da selecção, Mister Scolari. É só publicidade para Portugal, eh eh eh.
Com um grande abraço, fico-me por aqui... até à próxima semana.
Red in Holland
publicado por Red in Holland às 05:36

Segunda-feira, 10 de Setembro de 2007

Olá a todos,
É verdade...deixei-me conquistar pela inércia. Não tenho tido vontade nenhuma de viajar por aí e como faço questão de, sempre que possível, respeitar a minha vontade, tenho ficado por aqui mesmo em Haia. Farto-me de pedalar por aí por entre canais, lagos e muito, muito "verde", bebo um café aqui, outro ali, vou ao cinema, um jantarzinho fora de quando em vez, umas valentes noitadas e assim se têm passado os meus fins-de-semana.
Este último não foi muito diferente. Muito passeio, alguma borga e uma ida ao cinema. Não ia particularmente interessado no filme. Sinceramente até pensei que fosse um daqueles filmes estúpidos americanos para adolescentes. Ia mais numa de passar o tempo mas devo confessar que acabei por adorar o filme. O título: "Hairspray". É um musical e, para mim, uma lufada de ar fresco no panorama cinematográfico dos últimos tempos. Todo o filme é uma "bomba" de boa disposição. Eu, pessoalmente, não consegui deixar de sorrir durante todo o filme. A história é "doce" e a interpretação do John Travolta é memorável. Se não odiarem musicais, vão ver.
Em termos de livros, estou neste momento a iniciar a minha exploração da "Ilha do Tesouro".
O tempo por aqui continua "cinzento". Chuva, vento, máximas de 17ºC. Ah meu belo Algarve!
Os programas culturais e musicais continuam. Festival de música jazz, concerto de música pop ao ar livre, música ao vivo em vários bares da cidade... muita animação para combater o estado de depressão induzido pelo tempo.
O caso da pequena Maddy, principalmente neste últimos dias, tem proporcionado a Portugal bastante exposição nos media Holandeses. Resta agora saber se essa notoriedade será positiva ou negativa. Eu espero sinceramente que consigam descobrir o que se passou (sem sombra de dúvida) e que isto não se torne outro caso "Joana".
Por hoje é tudo. Voltarei dentro de uma semana com mais um relato (provavelmente tão desinteressante como este) sobre a minha estadia por terras Holandesas.
Red in Holland
publicado por Red in Holland às 05:40