As aventuras de um Algarvio no país das papoilas (e das bicicletas, e das meninas nas vitrines, e das drogas, e dos diques, ...)
Segunda-feira, 23 de Abril de 2007

... em que uma pessoa não devia sair de casa e este sábado foi um deles.
Levantei-me mais cedo do que o costume para apanhar o comboio das 09:47h para Middelburg, que chegaria lá (segundo o esquema da viagem que eu tinha da companhia ferroviária) por volta das 11:30h. A coisa, no entanto, não correu como esperado e acabei por chegar por volta das 16:30h. Como devem imaginar, estava completa e realmente frustrado, para além de extremamente irritado. Tinha feito aproximadamente 7 horas de viagem, mudado de comboio por quatro vezes e feito um transfer de autocarro que foi apanhado por uma corrida de bicicletas e obrigado a ficar parado durante uns 45 minutos. Para coroar a minha frustação, àquela hora já não ia conseguir fazer a outra visita que tinha programado para aquele dia - a cidade de Veere.
No domingo, uma das viagens planeadas também ficou por fazer. Consegui ir a Alkmaar mas já não pude ir a Haarlem porque alguém decidiu suicidar-se na linha do comboio, fazendo com que o tráfego ferroviário fosse interrompido.
Frustrações e desgraças à parte, o tempo por aqui, depois da semana de arrefecimento (a semana passada), voltou a arrebitar e o fim-de-semana revelou-se soalheiro e quente. Hoje, apesar do céu estar nublado, a temperatura continua bastante agradável.
Devo dizer também que, com a chegada da Primavera, tudo está a ficar encantadoramente verde. Isto está lindo!
O próximo fim-de-semana é de festa. Segunda-feira é feriado - Queen's Day em que se comemora o aniversário da Rainha - mas  a festança começa na véspera. Espera-se muita gente na rua, muita música, muita cerveja e muito comércio. Sim, comércio! Neste dia a população está autorizada a fazer aquele género de "venda de garagem" que se vê às vezes nos filmes Americanos. Depois vos conto!
Até lá...ficai na paz do Senhor.
Red in Holland
publicado por Red in Holland às 12:52

Terça-feira, 17 de Abril de 2007

Olá a todos.
Ora já lá vai mais um fim-de-semana! Este foi um pouco atípico.
No sábado fui fazer mais uma das minhas viagens exploratórios, desta vez mais para sul: Breda e Den Bosch. Breda é relativamente pequena e numa hora estava tudo visto. Den Bosch já é uma cidade com um tamanho considerável e não deixa de ser bastante agradável (pelo menos o centro da cidade). O coração da cidade combina amplas ruas e grandes largos com uma profusão quase labiríntica de estreitas ruelas, pequenos largos, pátios interiores e canais. Aliás, pelo que me foi dito, estes trilhos mais recônditos da cidade foram usados pela população em deslocações "clandestinas" numa altura histórica de forte repressão  em que havia um recolher obrigatório decretado.
Sábado à noite fui dar uma voltita pela cidade e abanar o capacete até de manhã.
No domingo, devido ao meu estado de fadiga muscular e calor excessivo que se fazia sentir na rua, não saí de casa a não ser ao fim da tarde.
Com efeito, o tempo aqui esteve maravilhoso. Para vocês não é nada de especial mas podem crer que aqui uma semana inteira de sol e um fim-de-semana com temperaturas na ordem dos 30 ºC é uma benção dos céus. Era vê-los espalhados por esses parques, jardins, fontes, canais, praias de papo para o ar a apanhar banhos de sol. No entanto, a temperatura hoje já desceu e prevê-se que continue a cair durante a semana até aos 13ºC.
Com bom ou mau tempo, parece-me que os Holandeses sabem levar bem a vida. Assim que saem do trabalho rumam em direcção ao seu snack-bar favorito onde se reúnem com os amigos para conversar, tomar uma cerveja, comer umas "tapas" ou simplesmente apanhar sol, se o tempo o permitir. A partir das 19h torna-se difícil encontrar pessoas na rua e mesas vagas nos restaurantes. Aos fins-de-semana é vê-los aos magotes por todo o lado: esplanadas cheias, ruas repletas de gente, lojas apinhadas de ávidos consumidores. Dá gosto ver! Sente-se que há vida aqui! E que rica vida, devo dizer!!!
Por hoje fico-me por aqui.
Um agradecimento a quem ainda tem paciência para ler os meus testamentos e outro a quem tem mandado notícias.
Até breve.
Red in Holland
publicado por Red in Holland às 10:43

Quarta-feira, 11 de Abril de 2007

Olá a todos. Espero que esteja tudo bem aí por terras de Portugal.

As minhas incursões por este lindo país continuam e este fim-de-semana que passou "despachei" uma quantidade considerável de localidades: Zwolle, Palácio Het Loo, Deventer, parque natural Hoge Veluwe, Amersfoort, Muiden e ainda uma exposição em Amsterdão e um parque temático aqui em Haia, o Madurodam.

Para não tornar isto muito extenso e maçudo vou apenas comentar o que gostei mais.

Palácio Het Loo - marcadamente de inspiração Francesa, apresenta semelhanças com o palácio de Versalhes: a simetria da construção e os jardins sumptuosos. O interior é ... palaciano (eh eh eh eh). Nos estábulos, uma mostra de carruagens reais: a carruagem fúnebre da rainha Willemina, toda em branco, com uma coroa prateada no topo, é simplesmente linda.

Hoge Veluwe - Propriedade privada (6000ha) transformada em reserva natural. Mistura de paisagens - bosque, planície, areal - bem como uma variedade considerável de fauna e flora. A residência dos antigos proprietários é uma "modesta" casita, coroada por uma enorme torre, construída no meio de um bosque, à beira de um lago. Devia ser um sonho morar lá! Um museu com a colecção privada dos ditos ex-proprietários alberga, entre muitas outras obras, uma escultura de Rodin, uma colecção impressionante de quadros de Van Gogh, alguns de Renoir, Picasso, para mencionar apenas os mais conhecidos. O parque disponibiliza bicicletas a pedal (grátis) para quem não tenha transporte próprio e pretenda percorrer o parque.

Muiden e seu Castelo - Segundo os nossos padrões, Muiden seria uma vilazita, mas aqui provavelmente é uma cidade. Atravessada por um rio, esta pequena cidade (??) não tem muito mais do que duas fileiras de casario de cada um dos lados e muito verde para alegrar a vista. Num dos extremos da cidade encontra-se o castelo de Muiden, o que, também segundo os nossos padrões, seria uma amostra de Castelo. Construção modesta e por isso mesmo cheia de encanto. Parece uma ilustração saída de um conto de fadas, de uma história de princesas e dragões.

Nieuwe Kerk, Amsterdão - Exposição sobre Istambul - Fiquei maravilhado. A igreja, só por si, é linda. Tem uma daquelas coisas (que eu não sei o nome) para onde as pessoas sobrem para ler passagens da Bíblia simplesmente fenomenal. Em madeira, toda trabalhada, é uma autêntica obra de arte, daquelas coisas que já não se fazem. Os intems em exposição, outra loucura. Objectos para nós banais transformados em obras de arte e verdadeiros tesouros: chinelos de banho, pentes, espelhos em prata trabalhada; um cachimbo de água em cristal e cravejado de diamantes (pelo menos uns 50), açucareiro e "potes de guloseimas" em porcelana pintada à mão, com pegas de diamante e rubis incrustados; um objecto de decoração para o cavalo do sultão cravejado de diamantes, rubis (pedras enormes) e com uma esmeralda com a circunferência de uma moeda de dois euros; uma adaga que, para além dos muitos rubis e diamantes, tinha um punho inteiro que era uma esmeralda. Saí de lá completamente abananado! Sem palavras, só vendo!

Para terminar, o Madurodam é uma espécia de "Portugal dos pequeninos", com réplicas de edifícos históricos, parques temáticos e obras relevantes de arquitectura e engenharia. É giro de se ver, ainda mais por causa das animações: comboios e aviões que andam, barcos que atravessam canais, pontes e diques que abrem e fecham. Patente também uma exposição de esculturas de gelo, num edifício especial, mantido a uma amena temperatura de 6 graus negativos. Como podem imaginar, não fiquei lá muito tempo!

Fotos em breve disponíveis no sítio do costume.
Até breve.
Red in Holland
publicado por Red in Holland às 09:04

Terça-feira, 03 de Abril de 2007

Caros compatriotas, cá estou eu para relatar a minha mais recente expedição pelas “Terras Baixas”.


A minha última viagem foi à cidade de Brielle, marco na resistência contra os Espanhóis.

Pela primeira vez escolhi a data de uma visita. Neste caso, por forma a coincidir com as festas da cidade. Quando embarcava no autocarro que me levaria até lá, tive logo uma pequena amostra do que me esperava - magotes de pessoas!


O autocarro levava o dobro da lotação: metade sentado e o resto de pé. Não havia um único centímetro quadrado naquele autocarro que não estivesse ocupado. O motorista pareceu achar piada à situação e não poupou esforços no sentido de tornar a viagem o mais emocionate possível, acelerando ao máximo, tanto nas rectas como nas curvas.


À entrada da cidade pude confirmar o que já suspeitava. A cidade estava apinhada de gente: literalmente, camiões TIR de gente, Boeings e outras coisas que tal de elevada capacidade!

A cidade em si não é nada por aí além! É pequena, compacta, engraçada, mas sem nada de extraordinário. O que, naquele dia, lhe emprestava um ar especial eram os habitantes locais vestidos a rigor com trajes medievais, as animações de rua, as muitas bancas com produtos tradicionais e as centenas de pessoas que decidiram, como eu, visitar a cidade.

Depois de sair de Brielle, “corri” para Roterdão a ver se ainda apanhava uma das viagens de barco para Kinderdijk (dizem-me que é um passeio que vale a pena fazer) mas já cheguei tarde demais. É uma das desvantagens de visitar pequenas cidades e vilas de periferia: perde-se muito tempo nos transportes!

Talvez agora consigam compreender o porquê da minha frustração.


Antes de me despedir, e porque recebi alguns e-mails de amigos a comentar o assunto, queria deixar um desabafo em relação ao resultado da eleição do maior Português da História (ou lá o que era aquilo!). SALAZAR?!?!?!?!? Qué isso! A malta passou-se, ou quê?!?!?!?! Eu não era vivo na altura, por isso não posso falar por experiência própria, mas os meus pais, avôs, bisavôs, entre outros familiares, viveram esse período da nossa História, e nunca os ouvi elogiarem o Salazar. Salazar pode ter deixado grandes reservas de ouro nos cofres do Estado, mas a que custo meus senhores! Será que já ninguém se lembra do racionamento de comida? Das parcas condições de vida em que muitos viviam e na fome por que muitos passaram? Do isolamento e do atraso tecnológico do país? A guerra colonial, também já esqueceram!?!?! As perseguições políticas, a censura, os exílios, os assassinatos?!?!? É por isto que Salazar é o maior Português da História? É disto que têm saudades? É isto que querem de volta? Por favor! Eu compreendo que as pessoas estejam desiludidas com o estado da Nação (e podem crer que eu sou um dos desapontados) e que queiram mostrar, de alguma forma, o seu descontentamento mas haja um pouco de consciência e sobretudo de respeito por quem sofreu, passou fome e morreu às mãos do regime do dito senhor.


Um abraço.

Red in Holland

publicado por Red in Holland às 08:44